Dentro da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, uma multidão se espreme para ver a imagem imaculada da Santa.

Saio da belíssima igreja e sigo a esmo no contrafluxo dos milhares de peregrinos que invadem as ruas no Círio de Nazaré. Atravesso a avenida Nazaré e serpenteio até a Avenida Governador Jose Malcher, 1895.

Meu corpo e espírito clamam por algo refrescante naquele calor de derreter cimento. Nenhuma brisa ameniza o frenesi da multidão. Visualizo do outro lado da avenida a sorveteria Cairu. Parece uma miragem em meio a turba.

Exaurido, me lanço porta adentro. Recebo a brisa fresquinha do ar-condicionado e fico em êxtase diante do balcão repleto de caixas de sorvetes coloridos. Duas senhoras me convidam para sentar. Dona Ruth e Dona Maria fazem parte do clã de seis irmãos que são os donos da rede de sorvetes.

Num piscar de olhos, tenho cinco sabores para degustar. Começo pela tentadora mangaba, uma frutinha deliciosa com um leve toque amargo. Daí em diante, um ‘Deus nos acuda’. Sorvia sabores que explodiam nas glândulas salivares. Delirava com iguarias regionais: Taperebá também conhecido como cajá, uxi, araçá e um manjar dos deuses de nome Maria Isabel. Ah, Maria Isabel… uma mistura de Bacuri, coco e pão de ló, pura tentação.

Refrescado e alimentado, desandei a conversar com as proprietárias. O negócio da sorvetaria Cairu iniciou-se no século passado, no início de 1963. O primeiríssimo sorvete foi o picolé de Bacuri, e, no ano seguinte, lançaram os sorvetes de massa cremosa. A rede cresceu, e hoje são 14 lojas em Belém e 2 em Salinas. Pergunto às irmãs qual o sorvete que os clientes mais desejam. As duas exclamam: “Mestiço!”. Sou induzido a experimentar. A mistura de açaí e bolinhas crocantes de tapioca é algo inexplicável. Virei fã no ato.

Ao fundo da sorveteria, também coexiste uma panificadora impecável. No dia seguinte, voltei a Cairu e aproveitei o ensejo para experimentar outros sabores (bacaba, cupuaçu e muruci), além repetir a dose com o imbatível Mestiço.

CURIOSIDADES
A sorveteria Cairu com suas 12 máquinas fabrica e processa uma tonelada e meia de sorvete diariamente. Nos período de férias, a média sobe para 3 toneladas.
São 12 opções de sorvetes de palito e mais de 50 de massa cremosa feito à base de frutas frescas, creme de leite e leite em pó.
Segundo as proprietárias, um artigo no The New York Times realizado por Seth Kugel em 16 de setembro de 2010 tem levado romarias de americanos em viagens pela Amazônia a bater ponto nas sorveterias Cairu.
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